Acervo de velharias
Ao acabar de ler o livro: Feliz
por nada, da escritora Martha Medeiros, feliz por nada e com fome fui direto ao
meu acerco a procura da próxima vítima.
O próximo romance, o drama a
viver, o suspense a se revelar, a ação a se desencadear, o terror a se rebelar.
Mas, depois de algumas horas
deparei-me com a decepção do desprazer pelo que avistava, mas não vislumbrava.
Entre o amontoado de títulos
mofados e esquecidos, nenhum me despertava o prazer, o desejo, o tesão de
outrora.
Então, lembre-me dos amores
perdidos, jogados fora, guardados em algum lugar entre paredes interiormente.
E dos muitos enterrados e
cultuados nesse memorial chamado saudade. A saudade é o que nos mantém ligados.
É o que mantém vivo o amor atemporal.
Histórias perdidas, amores
soterrados pelo tempo, pelo descaso, pela falta de manutenção e pelo desuso.
E que vamos amontoando,
empilhando um sobre o outro entre muros, nesse santuário interior por medo de
perder.
O tempo nos torna reféns das
recordações, lembranças e reincidências. Tornamo-nos invariavelmente leitores
assíduos do tempo.
Religando pondes outrora
indestrutíveis, mas corroídas pelo tempo, pelo esquecimento prematuro.
Não há separação, mas a
conservação, a restauração, a renovação dessa ligação tênue e controversa.
Onde desejamos o desapego, mas
zelamos pelo nosso acervo de quinquilharias e velharias, memórias da melhor
idade.
Frações, porções e objetos sem valor material, mas de grande
valia sentimental. Nossa única ligação com o passado.
Leandro M. Cortes