sexta-feira, 31 de julho de 2015

Acervo de velharias


Acervo de velharias

Ao acabar de ler o livro: Feliz por nada, da escritora Martha Medeiros, feliz por nada e com fome fui direto ao meu acerco a procura da próxima vítima.
O próximo romance, o drama a viver, o suspense a se revelar, a ação a se desencadear, o terror a se rebelar.
Mas, depois de algumas horas deparei-me com a decepção do desprazer pelo que avistava, mas não vislumbrava.
Entre o amontoado de títulos mofados e esquecidos, nenhum me despertava o prazer, o desejo, o tesão de outrora.
Então, lembre-me dos amores perdidos, jogados fora, guardados em algum lugar entre paredes interiormente.
E dos muitos enterrados e cultuados nesse memorial chamado saudade. A saudade é o que nos mantém ligados. É o que mantém vivo o amor atemporal.
Histórias perdidas, amores soterrados pelo tempo, pelo descaso, pela falta de manutenção e pelo desuso.
E que vamos amontoando, empilhando um sobre o outro entre muros, nesse santuário interior por medo de perder.
O tempo nos torna reféns das recordações, lembranças e reincidências. Tornamo-nos invariavelmente leitores assíduos do tempo.
Religando pondes outrora indestrutíveis, mas corroídas pelo tempo, pelo esquecimento prematuro.
Não há separação, mas a conservação, a restauração, a renovação dessa ligação tênue e controversa.
Onde desejamos o desapego, mas zelamos pelo nosso acervo de quinquilharias e velharias, memórias da melhor idade.
Frações, porções e objetos sem valor material, mas de grande valia sentimental. Nossa única ligação com o passado.

Leandro M. Cortes