A vida só tem passagem de ida
Hoje depois de alguns dias,
depois do súbito, daquele último sopro, a encontrei, ela que sempre foi tão forte
tão e áspera, se fez frágil e sem asas.
Perdera seu único amigo e
companheiro, apenas ouvi sem nada falar, aquele último adeus não partilhado,
uma última palavra rebatida.
Percebi que levamos anos para
construir, anos para amadurecer, anos amando e somos apagados da vida sem aviso
prévio.
Entre lágrimas que resistiam em
vir ao mundo, ela sucumbiu, mas resistia em aceitar o fim, segurava bravamente
aquele peso interno.
O conheci, vivi seus sonhos, suas
lutas, suas neuras, suas viagens, seus contos. Era um sábio com as palavras.
De repente começou a garoar, cair
lágrima de seu rosto surrado. Em meio as suas rugas, que escoavam aquela fina
chuva.
Era o desafogo, o romper daquela
represa, daquela saudade, da falta daquela companhia, daquela voz, daquele
corpo.
Por um breve instante, naquela
breve cruzada, segurei suas dores, e senti a dor da perda, a dor da partida.
Não houve sol naquela passagem,
que secasse seu corpo encharcado de lembranças e memórias, ainda úmidas e
quente.
Porque algumas coisas não morrem,
o amor é uma delas. A gente leva junto pela eternidade, preso ao coração e
junto à alma.
E a vida continua...
Leandro M. Cortes
Leandro M. Cortes