Confesso minhas falhas
“Falhei na minha missão mais
básica que era proteger meu filho”. Diz o pai do menino afanado brutalmente do
seu convívio semana passada em charqueadas/RS.
Confesso que morri um pouco
naquela hora e morro lenta e vagarosamente a cada nova tragédia diária.
É a adolescência suprimida, a infância que desaparece, o futuro interrompido,
uma vida que se perde.
Confesso que senti a sua dor mais profunda, a
sua saudade mais doce e o seu abraço mais quente tocando o vazio frio naquela
hora.
Confesso que senti o seu
desamparo, a sua fraqueza, a sua impotência, o seu silêncio gritando
desesperadamente.
Confesso que virei um pouco pai
naquela hora, para compartilhar da sua solidão, da ausência do seu pupilo da
sua criança.
Confesso que o agressor não tem
rosto, mas a dor, essa não usa máscaras. Confesso que não há ódio, mas
esperança nessa dor.
Confesso minha culpa por
sentir-me desprotegido. Por não poder prever as fatalidades. Por não prever o
minuto seguinte.
Confesso meus desamparos, a
ausência do estado, a omissão dos fatos. Confesso que vivo acuado.
Confesso que vivo essa meia
liberdade. Confesso que vivo entre grades. Confesso que sou um condenado em
prisão domiciliar.
Confesso não ter arma. Confesso viver nessa roleta russa. Confesso
que não sei de onde vem o tiro, a agressão.
Confesso que não sei se o momento
seguinte será de sorrisos, ou lágrimas. Se o momento seguinte será uma festa,
ou um funeral.
Confesso que não sei quem será a
próxima vitima. Confesso que mesmo em meio a essa guerra urbana, sou da paz.
Leandro M. Cortes