quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Impeachment no amor


Impeachment no amor

Com o tempo a lua de mel cede lugar a mais de uma sessão por semana. Sessões em hora errada. Sessões por nada. Sessões extraordinárias.
Onde ambos falam. Onde ambos tem razão. Onde os egos se exaltam e o orgulho se excede.
Não há consenso, mas a discordância coletiva. Opiniões contraditórias e contrarias.
Não há uniformidade, quando um aprova o outro veta. aumentam as discussões e ambos defendem suas teses.
A imunidade selada pelo casamento e atestada por contrato em papel impede o divórcio, a demissão por justa causa entre ambas as partes.
Então, com o tempo e com o desgaste da relação, tendemos a dividir, separar os sentimentos, a casa, a cama, a criar repartições, divisórias e estabelecer linhas imaginárias.
Com o tempo a chama diminui e naturalmente deixamos de sentir e viver o amor profundo e, passamos a aturar, suportar um ao outro como estranhos dividindo o mesmo espaço.
Com o tempo se perde a essência, o toque, o tato. Se perde aquela gostosa química entre peles.
Com o tempo o amor se torna estrangeiro, fala outros idiomas, que não o do amor.
Com o tempo o amor passa a viver de legendas e traduções simultâneas.
Com o tempo o excesso de zelo evidência o ciúme em fase inicial que avança tragicamente para outro estágio, o ciúme crônico e doentio.
Com o tempo o passado se sobrepõe ao presente e será sempre a pedra no sapato do casal e da relação.
O amor verdadeiro só existe quando a entrega é genuína, livre de interesses. Quando se busca mais que uma companhia, mais que a fuga da solidão.
Não há amor dissimulado que resista ao tempo. O tempo evidência hábitos, atos e expõe fatos com precisão cirúrgica.
O tempo não regride, o que declina é o amor mal administrado. O mal amado. O amor que se nega. O amor que sufoca. O amor que se perde.
Com o tempo o amor que não se renova, não se reelege. Nem sempre há renuncia, mas o fim do mandato.
Nem sempre há recondução, mas sim, o impeachment, a cassação por improbidade administrativa, por falta de decoro. A destituição e o fim iminente do amor.
Leandro M. Cortes