terça-feira, 18 de agosto de 2015

Bagunça interior


Bagunça interior

Dizem que a bagunça da casa reflete a desordem interior. Começo a concordar com tal afirmação.
Não sei. Sinceramente não sei, em que gaveta coloquei meus pensamentos. Em que porta se escondem minha emoções.
Em que céu nublado se precipitam minhas lágrimas e em que porta batem minhas carências mendigando pequenas porções de amor.
Não sei em que pupilas se agasalham meus olhos, em que realidade se perdem meus sonhos e nem onde se refugiam meus abraços.
Enquanto discorro por entrelinhas observo no retrovisor a cama desalinhada, cheia de rugas e dobras e morros e cerros.
E me perco entre a ilusão e a quase solidão, sendo afagado e amparado pelo abraço dos cobertores térmicos que me aquecem em uma noite qualquer de inverno.
Sobre a escrivaninha alguns rascunhos perdidos da noite anterior e entre livros amontoados, uma centena de histórias empoeiradas.
Talvez a casa seja o espelho que reflete a minha, a sua desorganização entre paredes, no interior, no fundo, no coração.
Por vezes se faz necessário desapegar daquele velho sapato, daquela toalha, daquelas lembranças quase cronicas.
Dores invisíveis que acometem o corpo e alma. Um conselho! Pratique o desapego. Dói. Eu sei que dói, mas dói mais fingir uma quase segurança de outro mundo.
Às vezes é preciso jogar fora tudo que não nos serve mais. Histórias, quase amores, paixões, ilusões e recordações.
Aquelas velhas fotos que nos tornam escravos e reféns de nossas próprias memórias. A saudade é sadia, mas a possessão é doentia.
Ceda liberdade ao que abarrota o corpo e sufoca a alma. Doe parte de suas tralhas e heranças. Divida seus bens e reorganize os móveis.
Livre-se das velhas expectativas e se agasalhe com um mínimo de esperança interior. Permita-se sair do comodismo.
Dessa preguiça mental desarranjada e desorganizada. A casa se transforma quando o interior muda.
E tudo começa com uma boa faxina interior!
Leandro M. Cortes