sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Nós os refugiados


Nós os refugiados

Não sei de onde vem, nem que nome tem. Não sei que sonhos nutria. Apenas sei, que de fome não morre mais.
Não sei que águas o trazem, apenas sei, que repousa à beira-mar. E que desse sono não mais despertará.
Tantos sonhos naufragaram. Tantos sonhos se afogaram. Tantos sonhos e prantos mundo afora desaguaram num só coro naquela hora.
Perdeu-se não só a inocência virgem de um pequeno ser, de um anjo, mas o ínfimo de esperança no ser humano.
Balançou e tocou os sinos do descaso, do pré-conceito e rugiram os tambores, relembrando os tempos áureos das guerras.
Quanto vale uma vida? Quanto vale a liberdade? Quando vale um sonho? Quanto vale o desejo pela paz?
À quem diga: À mim, não me comove mais. Não. Não comove, porque foi na turquia, longe das nossas fronteiras.
Não comove, porque estamos ocupados demais vivendo nossas próprias tragédias. Não comove, porque nossas perdas e dores se tornaram crônicas.
Não comove, porque foi um menino sírio. Não comove porque não fala nossa língua, nosso idioma. Não comove, porque está não é uma luta nossa.
Nós os refugiados, cerceados pela violência diária é que necessitamos de resgate. Nós é que necessitamos ser salvos dioturnamente.
Nós os refugiados do outro lado do mundo é que necessitamos ser carregados nos braços. Nós que nos arriscamos nas bordas desse mar de intolerância.
Mas, peço-lhes agora, um minuto de silêncio. Apenas um minuto. Um minuto de reflexão. Um minuto antes do naufrágio da humanidade.

Leandro M. Cortes