quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Meu novo lar


Meu novo lar

Hoje fui convidado a visitar, vistoriar a nova casa do vizinho. Seu novo lar. Seu novo refúgio. Mudanças sempre nos causam euforia.
Naquela casa tudo tem cheiro de novo, móveis novinhos, tinta fresca, janelas brilhando, portas abertas se oferecendo a recepcionar os visitantes.
Olhos vidrados, entre maçanetas reluzentes e corredores livres e desimpedidos. Sem histórias. Virgens do vai-e-vem rotineiro.
O interior vazio de memórias. Vazio de saudades. Vazio de lembranças. Vazio de amor. Vazio de sensações. Vazio de vibrações. Vazio de tudo.
Sorridente e com tom de leveza entre paredes, entre repartições. Entre seus dentes invisíveis. Silenciosa em suas dependências e carente de locação.
Lá estava ela nua, despida internamente de calor humano, pois ainda não se mudaram, mas linda e bela por fora entre sua lisura, cores e provocante indiscrição.
Lembrei do você! O que tem feito para mudar, renovar, remobiliar seu interior? Onde tem guardado sua fé e em que canto atirou suas esperanças?
Em que cabide pendura sua coragem, em que gaveta guardou seus sonhos, em que cadeira repousam suas atitudes?
Mudar por vezes não é uma obrigação, nem imposição, mas talvez, uma escolha. A fuga do destino traçado.
Da obviedade da coisa. Da mesmice. Dessa tal preguiça existencial adquirida com o tempo. É uma oportunidade para desafogar o presente e vislumbrar com o futuro.
Conheço pessoas que trocam de carro, de bicicleta, de amor, de rua, de bairro, de cidade, mas que levam velhas tralhas na bagagem.
Toda renovação implica em perdas, não basta atualizar o endereço é necessário desapegar do passado. Deixar para trás a infância, a adolescência e crescer.
Antes que envelheçam os sonhos, as promessas, os desejos e as vontades. Não tenha medo de romper laços, de viver suas rupturas e separações.
Há momentos em que se faz necessário implodir a segurança adquirida, tirar do papel e edificar velhos projetos.
Ver o sol nascer sob um novo ângulo, o anoitecer mais doce e travesso. O amanhecer como se fosse a primeira vez.
Voltando a casa do meu amigo. Avistei-o feliz da vida carregando seus pertences, seu freezer, cama, som, comoda, entre passos carregados de alegria.
Nos braços carregava alguns dos seus sonhos. Na face uma alegria incontida e uma desengonçada curiosidade. Aliás, ele tem, um único desejo: Ser Dj!
Então, música para os nossos silêncios e calmaria para nossas ansiedades.

Leandro M. Cortes