quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

O tempo que não temos



O tempo que não temos
Vivemos de amores contingentes e permanentes paixões que nos dilaceram diariamente. Porque aprendemos desde cedo, que sem o amor nada somos e que o outro é a nossa outra metade. 
Como se o amor fosse nosso salvador, libertador, nossa carta de alforria, bilhete premiado. Nossa fuga para a felicidade. Dai nascem às decepções e frustrações.
Aprendemos a ser visuais analíticos e ceder ao amor pelos seus atributos e não qualidades. Não que qualidades sejam um pré-requisito exigido. Não há mocinhos, nem mocinhas nesse jogo de interesses.
Não creio muito em cara metade, mas em amores que se completam. E se falta alguma coisa, aquele algo mais aos nossos olhos. Adeus, até logo, porque a fila anda.
Vivemos nossas farras, nossos porres, nossas ressacas, sem nunca assinar a carteira de fato. Reservamo-nos apenas a viver um ano, dois anos, cinco anos e nos demitimos dos nossos relacionamentos, sem aviso prévio.
Somos assim, inconstantes e revoltados. Inquietos e desajeitados. Donos da razão, mas não bons ouvintes.
O tempo voa e logo chegamos aos trinta indecisos. Sem ter formado uma família (não que isso seja uma imposição ou obrigação), sem a bagagem necessária para firmar morada, residência fixa.
Sem um projeto de vida, apenas na carona do destino e deixa a vida me levar. Vida leva eu. E nessa brincadeira chegamos aos trinta e cinco,
Rodados, mas sem a experiência necessária para superar nossas perdas e viver nossas dores. Porque somos reincidentes. Fomos reprovados algumas vezes no quesito desapego.
Nas tarefas impostas pelo dia a dia e pelos testes aplicados pela vida, porque dispomos de todo tempo do mundo, no nosso imaginário e fictício mundo dos sonhos.
De repente aos quarenta, com três faculdades inacabadas, formados pela vida, mas com medo de voar e de abandonar o comodismo, cedemos aos desencantos da vida.
Então, nos encantamos com essa vidinha a dois mais ou menos. E mais ou menos assim, passamos o tempo ao lado do amor, sem nunca ter vivido de fato.
Esse é o tempo que não temos. Tempo para viver nossos desperdícios e vícios com maturidade. Sem a prematuridade de outrora.
Leandro M. Cortes