sábado, 15 de outubro de 2016

Quarto


Quarto

É no quarto onde me refugio. É ele, o quarto, que faço meu bunker, meu esconderijo. É no quarto onde me penitencio. Faço dele meu confessionário, meu muro das lamentações silenciosas.
É no quarto me sinto em casa, onde me sinto a vontade. É o quarto a minha segunda casa improvisada. Minha casa de descanso, minha casa de praia fora de época. É o quarto meu lugar de retiro, onde vivo minhas terapias, onde curo minhas ressacas.
É o quarto meu espaço sagrado, inviolável. Meu salão de beleza, meu mostruário, vestuário vestiário, onde experimento e visto o corpo e alma com leveza e paz de espirito.
É no quarto onde repousam meus pensamentos. É no quarto que reclamo a ausência do amor. O quarto é meu cinema improvisado. É onde vivo meus dramas, suspenses, romances e comédias.
É no quarto onde vivo minhas bagunças internas. É ondo me perco e me acho. É onde dobro e guardo o dia de ontem. É onde me conecto com a saudade de coisas e pessoas no silêncio vazio da noite.
É no quarto onde tropeço em pesadelos e tenho os mais belos sonhos. É no quarto onde vivo minhas pequenas loucuras, onde cedo ao prazer desnudo da timidez, somente coberto pela intimidade entre corpos transeuntes.
É no quarto onde leio e releio, vejo e revejo o dia de hoje, onde faço auditorias internas. É onde recarrego as forças. É onde me conecto com Deus sem wi-fi, somente pela fé.
É onde vivo minhas solidões, minhas companhias. É onde tomo decisões. É onde acalmo o coração. É onde caio em tentação. É onde vivo minhas fantasias e fetiches.
É no quarto, no guarda-roupa da alma é nele onde guardo meus desapegos amorosos. É nele onde guardo tudo que não me cabe mais nem ao corpo, nem ao coração.
É no quarto onde vivo minhas abstinências do mundo lá fora. É no quarto onde vivo minhas confidencias. É onde vivo meus lutos, minhas saudades. É onde rabisco internamente meus sonhos.
É no quarto onde canto sozinho frente ao espelho. É onde ensaio palavras. É onde preparo aquela declaração. É onde os pensamentos se amontoam em um cantinho, depois de mais um dia.
É no quarto onde volto à infância entre a saudade do ontem e o presente que me faz adulto fora de hora, precocemente. O certo é que seremos eternamente crianças e em sendo, me sinto renascendo diariamente diante do mundo.

Leandro M. Cortes