Faxina interna
É sexta-feira, dia de faxina. Sei
lá, pode ser sábado também, quem sabe domingo. Pode ser pela manhã, ou à noite.
Algumas coisas na vida não têm
hora marcada para se fazer. A limpeza interna e externa da casa é uma delas.
Arredam-se os móveis, tiram-se os
tapetes, varre-se a sugeria, passa o pano, tira teias de arranha, deixa a
fachada impecável.
Mas há coisas que vão ficando
para depois. Coisas que vai se jogando pelos cantos, como roupa suja amontoada
no cesto.
Já pensou em fazer uma faxina
interna? Não, no interior da casa. No interior do corpo, onde o pano não alcança,
nem a vassoura chega.
Onde os olhos não vêem, mas a
alma sente. Não basta encher um saco de lixo com restos do dia anterior.
À que se eliminar o que fica
acumulado interiormente. Tudo o que pesa não o estômago, a barriga, mas o que
não sacia mais a alma.
De nada vale enfeitar o corpo e
continuar ouvindo reclamações do outro. De nada adianta pintar os olhos e não
transformar a carranca.
De nada adianta rearranjar os móveis,
mudar o cenário, se os personagens e a história continuam os mesmos.
Por vezes é preciso agradar a
rotina, dar prazer à monotonia e exercitar a morbidez, malhar o sedentarismo
que domina o amor.
Não basta limpar a casa. É preciso
eliminar as pequenas sujeiras camufladas que despertam atritos na relação.
Não basta rearranjar os móveis. É
preciso dobrar, passar e guardar os pensamentos, sentimentos e emoções em
compartimentos separados.
Não se culpe, nem se vitimize,
nem se omita, nem tenha medo de orquestrar mudanças, pois a felicidade faz
barulho.
O amor exige bem mais que um (a)
diarista, um peguete de vez em quando. O amor exige carteira assinada,
pontualidade e assiduidade.
Leandro M. Cortes