segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Seu nome era Sofia


Chovia, chovia, chovia sem parar e ala chorava muito, muito e sem parar. A cidade estava inundada, assim como o coração.
Bebia uma dose de saudade e outra de vodca, dessas chinfrins que se encontra pelos botecos da vida.
Só assim resistiria ao fim do vício, adquirindo outro vício. E se quer saber, o amor é mesmo uma droga. A droga preferida de Sofia. Sofia era o seu nome.
Chovia muito e ela soluçava sem parar mergulhada no desespero que enlutava sua face. Acabará de ficar órfã do amor.
Suas emoções mal conseguiam parar em pé, seus pensamentos estavam todos com o morto. Trovejava lá fora e ela tremia por dentro.
Chovia muito e ela bebia sem parar. Bebia muito na ânsia de silenciar a tristeza, mas o silêncio gritava sem parar.
Chovia muito e sem parar, Sofia já encharcada respirava com sofreguidão, chorava pelo que poderia ter sido e não foi. Por tudo que se perdeu.
Sofia caminhava sem parar, andava de um lado ao outro na sala. Já fora até a varanda tragar um maço de cigarros, na ânsia de tragar a dor.
A janela aberta escancarava sua dor, do pranto brotava certa esperança, mas já era tarde, tarde para voltar atrás. Tarde para reanimar o amor.
Tinha vontade de atravessar a cidade, correr até ele, mas chovia, chovia muito e sem parar, e ela nadava em lágrimas, nesse rio de sentimentos empoçados.
Tinha vontade de ligar, mandar mensagem, mas não havia sinal. Aliás, seus sinais vitais haviam parado. A conexão estava cortada.
O sonho havia virado pesadelo, terrível. O cara nem ao menos a conta da noite anterior pagou. Sumiu deixando-a na chuva.
Ela remava nesse oceano de desilusão a que se jogou. Mas sabia que era necessário superar e seguir em frente. Remar contra a correnteza era como suicidar-se.
Era tarde já e a chuva já havia parado, limpando as ruas da cidade, cada vinco das calçadas. Ela precisava lavar e remediar a alma.
Então, ela recolheu-se em sua dor e tratou de apresar o funeral. Se sofria, já não sofre mais. Logo, cortou essa linha que unia dois mundos distantes.
Era um dia cinzento, um dia qualquer de verão, quando Sofia jogou suas cinzas ao mar. E seguiu andando em frente, sem olhar para trás.
O passado de vez em quando é um morto vivo. Um lugar para se visitar, não morar.
Leandro M. Cortes