domingo, 22 de janeiro de 2017

O fim do romantismo



Quem acompanhou a entrevista do ator Marcello Novaes no domingo passado ao apresentador Faustão, deve ter visto e ouvido a bela declaração de amor de sua Ex-mulher, Letícia Spiller.
Foi um “Eu te amo”, como a declaração do inicio do amor, mesmo depois do fim. Foi uma declaração pura, genuína e sem o peso das desavenças, das cruezas da relação.
Nem ele, nem ela, transformaram o fim da relação em munição para alimentar uma possível guerra, pós-rompimento de relações.
Nem transformaram o amor em uma religião, a fim de distorcer o que se prega sobre o romantismo para justificar o fim.
Continuaram fiéis um ao outro, diplomatas da boa conivência  entre ex-amores merecedores do premio Nobel da Paz.
Essa é uma bela declaração, mais que merecida, pela trajetória do ex-casal, que manteve  a amizade, a lealdade mesmo depois de anos separados.
Eu te amo, virou artigo raro nas vitrines da vida. Eu te amo, deixou de frequentar nossas mesas, sofás, camas, corredores e repartições de nossas casas.
Eu te amo, não frequenta mais vias públicas, é invocado em raras oportunidades longe das câmeras, do olhar do público.
Eu te amo, deixou de ser surpresa. Eu te amo, virou constrangimento. Eu te amo, é uma arma em mãos erradas. Eu te amo, sempre gera aquele medo, o medo da frustração e da decepção.
Eu te amo, só para os pais e para as mães. Eu te amo, para os amigos. Eu te amo, para o gato, para o cachorro. Eu te amo é usado indiscriminadamente, longe da relação.
Eu te amo, só não é boicotado pelo amor maternal, amor de mãe é o único que é e será incondicional, mesmo diante das nossas travessuras,
Erros e desacertos. Amor de mãe é imune a discussões, essa é uma relação para a vida, a qual sempre será alimentada por esse cordão umbilical que nos une, o amor.
Eu te amo, perdeu o glamour. Eu te amo, perdeu o valor. Eu te amo, não é mais um artigo de barganha. Eu te amo, perdeu a magia de outrora.
Eu te amo, não atesta mais nossos compromissos, nem é mais uma assinatura válida. Eu te amo, sem prova é um atestado de culpa, uma confissão antecipada de um delito.
Eu te amo, não sacia mais a sede de ninguém. Eu te amo, não nos veste mais. Eu te amo, não nos comove mais.
Vive-se a quase falência do amor e a eminente morte do romantismo diante da tecnologia que nos rouba o calor humano e nos presenteia com a frieza da era digital.
Eu te amo, perdeu a simbologia, deixou de ser um símbolo universal, deixou de ser a linguagem oficial entre os amores e amantes, virou uma palavra qualquer. Eu te amo, eu não preciso mais de você, adeus.

Leandro M. Cortes